ARTIGO: Como Vender Melhor a Segurança

por José Aparecido Leal*

A ausência de acidentes não implica na presença de segurança.   Quem quer que tenha dito isso, acertou na mosca.  Ter “Segurança” não é uma questão de não ter acidentes ou de ter “papéis”, ou melhor, planos para a segurança do trabalho.  O processo de fazer segurança envolve pessoas, todos os dias, todos os minutos.  A primeira lição que os profissionais envolvidos com a Segurança devem aprender envolve “Conteúdo e Processo”. 

Conteúdo consiste NO QUE você quer alcançar ou sua meta, ou seja, procedimentos escritos, listas de ações, procedimentos passo a passo, guias de treinamento ou instruções verbais. O Conteúdo define a abrangência e ponto final de uma tarefa ou projeto.

Processo, por outro lado, é a parte dinâmica de COMO um projeto, procedimento ou meta é realizado e o efeito dessas ações nos indivíduos e grupos. O Processo é o único fator, o mais importante, que garante o sucesso ou fracasso de uma tarefa.  Entendendo e usando o Processo formalizado, a habilidade de um grupo em conhecer as metas e agir corretamente melhorará, como por exemplo, seguir os procedimentos de Lockout-Tagout, sempre que necessário. Processo é aquela “parte complicada” de administrar as pessoas e que é frequentemente negligenciado. Corretamente usado, o Processo pode ser aplicado para ajustar e reforçar os padrões, para transmitir expectativas positivas e resolver problemas.   É importante usar toda “crise” como uma oportunidade para fortalecer grupos e melhorar o desempenho dos empregados e o seu envolvimento.

Ter Segurança significa que os funcionários:

  • Entendem e seguem os procedimentos;
  • Relatam as condições inseguras;
  • Encorajam os outros a trabalhar seguramente;
  • Acham, resolvem e corrigem os problemas nas áreas de sua responsabilidade;
  • Sugerem melhorias em procedimentos e equipamentos;
  • Não usam atalhos.

Ok, quem é o responsável por esta bagunça? 

Toda empresa procura ter as atribuições de cada função bem definidas, assim como a delegação de responsabilidades, em todos os níveis, pois a coordenação entre elas é tão importante que se o porteiro da recepção não fizer bem o seu trabalho, com certeza, muita gente será prejudicada.

Então, voltando à pergunta inicial, quem tem responsabilidade pela Segurança?  É claro que a resposta padrão é TODOS. Esse é um ótimo pensamento, mas é necessário olhar para a realidade.   As pessoas que têm a maior influência na Segurança são os supervisores de menor nível hierárquico. Essas são as pessoas que trabalham, dirigem e observam os empregados da produção a cada minuto.  Eles fazem as pressões positivas ou negativas que motivam (ou desmotivam) os trabalhadores.  Se esses supervisores não compraram os Programas de Segurança, pouco acontecerá no “front” da Segurança. 

Os Gerentes de Departamento e Líderes de Projeto detêm o maior controle da Segurança.  Geralmente, eles têm a autoridade para mudar procedimentos ou redirecionar recursos. Às vezes, o comentário mais casual, como: “vamos pular esta etapa desta vez”, pode causar um dano considerável para a Cultura de Segurança em uma companhia, especialmente, se a mudança não é comunicada e adequadamente explicada.

É claro que a gerência superior tem a responsabilidade pela Segurança, pois são as “Pessoas Designadas para a Cadeia“:  são os que podem ser presos se uma negligência criminosa contribuiu para um acidente grave ou morte.  Assim, se a gerência superior quer um alto grau de Segurança, eles devem:

  • continuamente, comunicar isso a toda a administração;
  • prover recursos e pessoal para tarefas de segurança;
  • assegurar que programas de segurança escritos satisfazem às exigências legais;
  • discutir sobre segurança nas reuniões de sua equipe;
  • usar o desempenho de Segurança como uma parte de avaliação profissional de todos os funcionários, em todos os níveis.

Sim, todos são responsáveis pela Segurança, mas possuem diferentes tarefas a fazer para monitorar e melhorar o ambiente de trabalho.  Se a Segurança permanece estática, ela se tornará pano de fundo e, novamente, se tornará um “fardo aborrecido”.

  Aos perdedores das batatas

90 % do “Trabalho de Segurança” é vender Segurança. Os seus clientes são os empregados, supervisores e administração. A maioria dos gerentes não estão bem informados sobre as Normas Regulamentadoras – NRs, Portarias e Decretos Lei, normas técnicas da ABNT, Sistema de Gestão ou até mesmo os procedimentos de segurança da própria empresa. Muitos vêem a Segurança como simplesmente uma lista de regras a ser seguida (que podem ser quebradas, caso haja problemas sérios na produção).

Quando você tem a oportunidade de apresentar qualquer coisa para seus gerentes, seja um projeto, um memorando para a assinatura, um plano de treinamento ou simplesmente uma lista, arranje tempo para preparar um documento bem acabado – nunca um desenho áspero ou notas fortuitas em um pedaço de papel. É o trabalho do “Profissional da Segurança” realizar a pesquisa, projetar e definir plano para toda tarefa de segurança. Para fazer isso efetivamente, observe outra companhia semelhante, de modo a buscar boas práticas que deram certo no passado, inclusive formas de apresentação de documentos. Essa prática de apresentar um documento bem-acabado, principalmente com conteúdo, é o que se chama de “Um Bom Trabalho”. Em vendas, apresentação é tudo. Seu chefe não quer perder as batatas.

  Venda os Benefícios e não o Produto! 

Para a gerência superior, os clientes mais importantes para o Gerente de Segurança são as pessoas que trabalham na linha de produção.  Como você alerta esses “clientes” sobre os benefícios de seus ” produtos e serviços “?   Tem-se observado um grande “oba- oba” no treinamento comportamental.  Basicamente, é uma nova camada de tinta no velho conceito de intervenção e modificação do comportamento. Tão velho quanto a existência do mundo, o comportamento humano é um resultado da combinação de incentivos externos e valores (incentivos internos). O uso efetivo desses dois conceitos pode resultar em melhoria no comportamento (para a Segurança).

 Comece no Primeiro Dia.

O primeiro dia no trabalho é o mais importante. O novo empregado traz os seus próprios valores para a nova empresa e esse é o momento em que eles estão mais dispostos a modificar os seus sistemas de valores individuais para se ajustar ao novo contexto, para ser aceito e ser visto como alguém que pode colaborar positivamente. Tenha certeza que todo estímulo negativo foi removido do seu Programa de Integração para Novos Funcionários.  Observe o que o novo funcionário, na verdade, experimenta no primeiro dia. Há uma série de longas e enfadonhas palestras? O que eles encontram e qual impacto que isso tem?  Eles conseguem ter a visão de como eles contribuirão? Os valores da empresa, regras e expectativas são claramente comunicados? Eles são apresentados aos outros empregados, que também comunicarão valores positivos a eles? Deixados por si só, encontrarão as maçãs podres? Controle essa nova experiência no primeiro dia e na primeira semana para assegurar que os novos empregados são adequadamente sintonizados com o comportamento e a “performance” que se espera deles.

 Trabalhando com os Cipeiros

Tenha certeza que seus novos funcionários encontrem alguns Cipeiros e membros do Comitê de Segurança, se houver. Deixe-os conhecer o valor desses novos colaboradores, de que eles são parte do Plano de Integração para novos funcionários e, principalmente, que devem buscá-los quando tiverem dúvidas ou perguntas.  Cultive e treine o seu Comitê de Segurança para ser parte do plano global por assegurar comportamento seguro de todos os funcionários.  Todos os empregados devem ver que os gerentes apóiam os Cipeiros, os Membros do Comitê, no dia a dia, e não somente as reuniões.

    Entendendo os Fatores Motivacionais

Comunicar expectativas positivas é só uma parte do plano.  Se você espera que os empregados adotem ações e atitudes adequadas, a companhia deve, publicamente e continuamente, fazer cada empregado se sentir aceito, necessário e conhecido como um indivíduo cujos valores positivos são apreciados. Tem que se conhecer as pessoas, pois somente assim a intervenção comportamental terá sucesso.

 Segurança em Primeiro Lugar! 

Todos já ouviram isso.  Um slogan de segurança muito usado e que muitas empresas colocam em cartazes nos locais de trabalho. A pergunta é: – Se a Segurança vem em primeiro lugar, por que eles têm que sempre dizer isto? É comum se escutar (fora da sala de reunião), “os resultados vêm em primeiro”. Provavelmente não, mas TODOS conhecem isso e RESPONDEM a isso.  A Segurança somente virá em primeiro lugar e resultará em comportamentos que melhorarão as operações e a qualidade de produção se ela se tornar parte da cultura da companhia, da alta administração até o empregado mais novo.

*Diretor de Segurança do Trabalho da AEAPG e Inspetor do CREA

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